Corredores cheios de pessoas frenéticas, um exército de compradores; nas lojas, então, é uma guerra. Aliás. eu sempre comparo lojas grandes com a selva: as compradoras experientes eliminam as outras muito fácil! Correr, por na sacola, lutar pela última peça com unhas e dentes, arranjar uma vendedora - não é fácil. Prosseguindo: tu vê tudo isso e pensa como o mundo é um lugar mesquinho e as pessoas pensam pequeno. São só objetos/roupas! E agradece por ser diferente.
Eis que passam uns 10 minutos (ou algumas vitrines). A transformação já ocorreu, infelzmente, e nem deu pra notar! Comprar passa a ser a coisa mais importante do mundo, agora, estamos na selva também e queremos ser o caçador. A bolsa que antes seria apenas "bonita" agora aparece como "tudo que eu preciso na minha vida", o preço exorbitante cobrado por ela (antes: "que horror, que tipo de gente paga isso por um pedaço de tecido!?"/imensa divagação a respeito de como o Sistema é desumano) agora é "ai, meu coração dói! Eu acho que eu vou morrer, aliás, é melhor que eu morra mesmo..." e o vestido que não tem no teu tamanho (antes: "que pena, acontece") é "eu NUNCA MAIS vou ser feliz".
Freqüentadora típica de Shoppings Centers.
O que aconteceu? Não se sabe... Talvez Freud explique, mas esse blog não é dele, é meu. O modo como as pessoas mudam dentro de um shopping deveria ser estudado, o ar condicionado deles deve ter algum tipo de essência maluca, ondas invisíveis devem penetrar nos cérebros, algo assim.
Então, após horas insanas de luta, vamos, exaustos, para a casa, ainda com lágrimas nos olhos por não ter comprado aquela magnífica bota de lutador de boxe verde-limão que ficaria in-crí-vel com, e apenas com, aquela blusa de uma alça só amarela berrante que compramos no shopping mês passado e ainda não usamos. Cansados e endividados, voltamos para nossos lares, e resolvemos dar uma olhadinha nas compras. Aí temos lágrimas de verdade! POR QUE, meu Deus, compramos tudo isso?
Chega o momento áureo: pensamos sobre como o mundo é injusto, como existem diferenças sócio-econômicas horrendas, como colaboramos para isso tudo ser do jeito que é, como não temos vergonha na cara e não ajudamos ninguém, como até o cachorro parece triste, como as folhas caem melancólicas da árvore ali fora e como existem crianças na África passando fome. Então, decidimos, de uma vez por todas, parar com tudo isso e sermos pessoas melhores. Shopping, nunca mais! Até que chega o próximo sábado tedioso, claro.