quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

essa é a luz que eu preciso...

Chove muito. Por toda a cidade, as famílias jogam cartas, assitem a filmes, dormem. Uma das casas está vazia, fechada. A rede está ali fora, sendo quase levada pelo vento e o shortinho branco recém lavado foi arrancado do varal. Que pena, já estava seco. Por dentro, há água pelo chão: quem disse que os vidros haviam sido fechados? O chão não está muito limpo e as camas não são arrumadas faz uns dias.
Não muito longe dali, na beira da praia, as moradoras correm, gritam, riem.
Longe de tudo e de todos, as 4 vivem.

Por que não pode ser assim para sempre?

sábado, 21 de fevereiro de 2009

uma menina saudável

Algumas pesoas não comem carne, outras não gostam de salada, e há até mesmo quem se alimente só de luz. Essa menina era diferente: ela vivia apenas do amor. Não um amor qualquer, mas o amor não correspondido. É por isso que ela anda tão gorda.
Seus cabelos são vermelhos, assim como as flores que nunca recebe (e continua esperando). Faz falta a ela o calor, o fogo, o arrepio que provoca um carinho, sabe?, a sobremesa. Mas ninguém precisa de sobremesa para sobreviver, embora seja muito difícil resistir sem o almoço... E é como se servissem seu prato repetidas vezes nas refeições. 'Não, obrigada, não quero mais, não AGUENTO mais'. Mas o amor não correspondido ignora e continua a crescer na panela.
E ela não consegue dizer não, não resiste a um pouco de insistência... 'toma vai, toma mais um pouco'.

Toma no cu, isso sim.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

sei que me viu passar

Eu sei que me viu passar essa semana, quando eu andava com pressa - o mercado sempre fica cheio naquele horário. Ao te ver de relance, quis fugir: o meu chinelo de dedos velho e cabelos presos em um coque mal feito não me pareceram suficientes para o momento. Eu queria a magia . E, definitivamente, minha camiseta larga não faria os sinos tocarem quando nossos olhares se cruzassem.
Dei mais alguns passos e pensei que talvez não fosse tão ruim assim. Um encontro casual. No fundo, sabia que tinha me visto. Pior: sabia que tinha visto que eu queria que não visse. Complexo, não? Acho que eu esperava que puxasse meu braço e bradasse um 'escuta aqui, tu não pode fugir pra sempre!'. Ou que chamasse por meu nome, fizesse alguma piada sobre as roupas, não sei.
É claro que não acreditava realmente que fizesse isso. Pois, de ti, só aguardo a voz doce e as palavras certas.
Entrei no mercado correndo, ainda pensando no quase-encontro. Tu - que começavas a sentir o frio do fim de tarde - pensavas nas minhas fugas, me dando todo o tempo do mundo. Eu, passando pelo corredor das verduras, te admirava ainda mais.
Ambas suspiramos.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

esperança


espero pelo fim do expediente, resultado do exame, alívio pra dor, cessar da chuva, começo do filme, cair da lágrima, nascimento do filho, retorno dos pais, início das aulas, festa da noite, final do livro.

mas tudo que eu queria mesmo é um telefonema.

que não vem.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Sobre o fim do amor - um rascunho

Sempre me pergunto como acontece, mas nunca encontrei uma boa resposta. O fato é que, para a maioria das pessoas, o amor acaba. Não me refiro àqueles casos em que pensamos, avaliamos e - por vontade própria - aniquilamos nosso sentimento. Falo sobre aquele dia, esperando o semáforo abrir, passando um batom, em que o espelho reflete nossos olhos e tudo fica claro: nós não amamos mais.
E então aquela pessoa outrora tão bonita e perfumada - o homem da nossa vida? - passa a ser um mal vestido, um chato. 'Por quê?', é o que perguntam quando se dão conta do acontecido. É essa mesma questão que me persegue, me tira o sono. E surge, ainda, outra dúvida: desde quando?
E esse é o ponto central. Quando foi que deixamos de sentir as borboletas ao vê-lo, os olhos brilhando depois de cada beijo apaixonado? E por que não nos demos conta? Tudo acontece tão camuflado em meio aos problemas e correrias do cotidiano, o ônibus que pegamos para trabalhar, a janta que fazemos apressados. Como se dá essa tranformação? Nosso amor antes tão certo vira um 'bom dia' ao acordarmos, isso senão repulsa quando conversamos.
Será que em algum - ou alguns - momentos de nossa história fizemos algo de errado, de grave a ponto de destruir silenciosamente o sentimento? Eu não sei. E é por isso que essas palavras são rascunho, porque não tenho certeza de nada, na verdade, não sei de mais nada. E já nem sei se sei amar.