Eu amo compras. Amo carregar aquelas sacolas cheinhas, chegar em casa e colocá-las sobre a cama - observando minhas aquisições com um brilho nos olhos. Enfim, sou uma dessas "consumistas de merda que fazem o mundo ser o lixo capitalista que é" como diriam certas pessoas mal vestidas da faculdade - E DAÍ, sou super feliz assim.
Mas se tem coisa que eu não suporto é comprar calças. Sim, uma coisa simples como calças: por que a gente não anda de perna de fora? Logo, eu uso as minhas ao máximo, até não ter escolha e ir à luta: vamos para o shopping. Já vou direto pro shopping porque é certo que precisarei de muitas lojas e muitas opções. E falo 'vamos' porque eu não vou sozinha jamais, corro risco de apanhar das vendedoras. Só duas pessoas aguentaram até hoje essa saga: minha mãe (mãe é mãe, né) e a Fernanda. Morando longe de minha mãe, sobrou para Fernanda, que foi aprovada com méritos. Ela é o tipo de menina meiga e educada, que faz o intermédio entre eu e a atendente - uma mais furiosa que a outra.
Não é que eu não saiba o que eu quero: é justamente o contrário. Eu NÃO gosto de: brilho, cores, objetos pendurados, cintura super-ultra-mega-baixa, bolsos chamativos e etiquetas gigantes. Deve ter mais coisa, mas esqueci agora. Então, tudo o que eu quero é uma calça normal! É difícil? Infelizmente é, meus amigos.
Entramos na loja 1. Sou muito clara em relação ao que eu quero. A mulher simpática começa a mostrar as novidades: brilho, brilho, etiqueta gigante, muito brilho, bolsos ridículos. Paro, respiro, explico de novo. Brilho, cores, cordinhas, brilho. Explico mais uma vez. Fernanda prevê o perigo e me encaminha para o provador: "Só pra ver qual o tamanho que tem que ser...". Fernanda explica calmamente para a mulher, que já está ficando irritada (não mais que eu). Provo uma calça qualquer, pra ter certeza do número, meu Deus, que calça ridícula haha. A atendente está colocando a loja abaixo, Fernanda faz o favor de levar uma a uma até o provador - depois do vigésimo 'não', ela nem pergunta mais, vê no meu rosto a resposta. A vendedora está furiosa, eu também. Mas, para ela, virou uma questão de honra. Disse Fernanda que a viu quando teve a idéia: resgatou uma calça do fundo de uma prateleira. Essa eu provei, era normal. Mas era preta. Vamos embora da loja, se eu não achar mais nada volto aqui. Do corredor, vi os olhares solidários das outras atendentes para a que me 'ajudou'.
Lá pelo quinto estabelecimento, já começo a sentir o cansaço da pobre Fernanda, que está pronta para apartar uma briga minha e de lojistas a qualquer instante. É um daqueles lugares que a mocinha pergunta teu nome e fica sendo querida o tempo todo. "Ai, Ângela, vamos dar uma olhadinha na coleção nova? Ai, essa ficaria liiinda em ti!". Bom, se vai ficar linda, deixa eu provar. É, bonitinha. Tem uma barra meio estranha, mas eu mando cortar. Mas, pequeno problema, não passa na minha bunda. Nem que eu deite na cama, fique dias sem comer e use um daqueles modeladores vai entrar. "Moça, preciso de uma maior." TÃN-DÃN, a cara de nojo. Me olhou como se eu tivesse soltado um peido e disse "Não tem maior", horrorizada. Ah, por favor, 40 não é gorda!!!
Saio da loja frustrada. Passamos por uma daquelas de 'tamanhos grandes' e Fernanda tenta quebrar o clima tenso: "quem sabe vamos nessa, hehe". Me olha e grita: "não chora, por favor!! Eu tô brincando". Por pouco não foi tarde, respiro fundo e sigo em frente. Tomei uma decisão drástica: não entro mais em lojas coloridas ou com vendedoras miguxas. Aliás, talvez eu nem compre a calça hoje.
Entro em uma loja qualquer, a calça da vitrine era bonita. A vendedora me mostra umas 15 calças, nenhuma é a da vitrine, embora eu tenha deixado claro que era justo essa que eu queria. Quando a moça encontrou o modelo desejado, me enviou para o provador. Dou uma olhada na calça: tem tanta lycra assim? Porque ela jamais vai entrar em mim! Antes de provar, ainda bem, dou uma olhada na etiqueta: 36. Convencida de um engano, chamo a atendente: "Você errou o número...". "Não, mas tu usa 36!", "Mão, moça, não uso" "Usa sim!". ESCUTA AQUI, MOÇA, EU USO CALÇA HÁ ANOS, EU SEI QUE NÚMERO EU USO. De qualquer forma, mesmo a do meu número ficou ridícula.
Desmotivadas, passamos por uma loja pequena, escondida em um canto do shopping. O tipo de loja que minha mãe entraria. Eu entrei! A vendedora sorridente me fala "Tu tem certeza que quer algo daqui?". Sim, eu tenho! Adivinhem onde comprei minha calça? Linda, básica, sem cortes, cores, bordados absurdos, sem revelar metade da minha bunda... e pela metade do preço das outras lojas!
Fica o apelo: por favor, estilistas, façam calças não-piriguetes!