sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Dezembro chega...

Dezembro chega trazendo o sol, as férias, os risos e a dor. A dor que insiste em voltar, que tem data e hora marcada pra bater a minha porta. Lembro que no início doía-me: as lágrimas em vão tentavam lavar minha alma imunda e culpada. Entenda que eu não tive escolha, por favor... Esqueça que eu fui covarde demais pra fazer o que era certo. Mas o que é certo senão convenções, meu amor? Hoje já estou acostumada - sento no sofá com um bloco de notas, tomando um chá. Quando a primeira faca crava em meu peito, bradando "por quê?", abro os braços e te sinto por completo, dor que tanto mereço.

Dezembro chega e já não sinto mais a surpresa que assola, dou-te boas vindas nesse ano e pergunto se vais ficar para o Natal. Tu não me respondes, deixa-me nesta agonia. É nosso pacto: não me dizes quanto ficará, não te respondo porque fiz o que fiz. Na verdade, não tenho mais motivos. Largo minha xícara de chá, observo as cicatrizes que deixa sempre - elas são tantas que escrevem uma história, uma história de milhares e milhares de páginas... um história que o mundo jamais lerá. Porque prefiro esconder o livro, guardar só pra mim tão belas e tão tristes lembranças. Gosto de omitir as partes ruins, as paredes brancas e o último dia do parque.

Dezembro chega e penso melancólica que, juntos, prepararíamos uma festinha de aniversário. Ele ou ela - nosso amor ou nossa amizade - faria anos. Gostaria de ver todos com chapéus coloridos, dando parabéns ao orgulhoso casal. "Obrigado", diríamos, "estamos muito felizes...". E todos nossos amigos estariam por perto, dizendo "que narizes lindos!", não ela, a dor que impõe sua presença. E eu a aceito. E se a aceito é porque sou ciente de meu merecimento, de meus erros. De meu grande erro.

Dezembro está chegando e já consigo ouvir os passos no corredor... Pode entrar, a porta está aberta e neste ano comprei pouco chá: trate de ficar pouco tempo.


Mônica.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Eduardo e Mônica, 2005

Ela era de leão e os dois tinham 16. Ele pedia Pepsi, ela, Coca. Ele torcia pra Grêmio, ela, pro Inter. Ele gostava do verão, de praia, de jogar bola no fim da tarde. Ela amava o inverno, o campo, o livro que lia antes de dormir. Ele a fazia rir, ela o fazia chorar. Mesmo assim, todos diziam que eram feitos um para o outro.
Caminhavam pelo parque sem saber o que fazer, observando as famílias que aproveitavam o domingo de sol. Uma menino de cerca de 5 anos olhou para os dois que andavam de mãos dadas, foi conversar. Mônica perguntou o seu nome. Em resposta, a criança deu um chute em Eduardo e saiu correndo - deve ter aprendido a não falar com estranhos. Seguiram seu caminho, naquele silêncio perturbador. Mônica olhou para ele: tinha um nariz lindo. Lembrou que há uns meses sua amiga disse que, se tivessem um filho, ele teria o nariz mais bonitinho de todos. Deu vontade de rir, mas, ao mesmo tempo, falaram: 'que merda'. Dentre todas as coisas que deveriam ser ditas, essa foi uma das únicas pronunciadas.
Sentados na grama, nesse dia não olhavam as nuvens - imaginando formatos engraçados - como sempre faziam. Olhavam para o parque, sem ver graça alguma nas crianças que brincavam e corriam, brigando pelo escorregador. Era apavorante. O silêncio era quase palpável. A menina que andava de balanço caiu no chão, machucando todo o rosto na areia. Entre gritos, lágrimas e sangue - o parquinho parou para dar passagem aos pais que correram socorrê-la. Eduardo e Mônica preferiram não se olhar: estavam pensando a mesma coisa. Além do mais, Mônica estava enjoada.
Não era dia de rir, acredito que nem de chorar. Uma mulher passou com um lindo dálmata, que andava chamando a atenção de todos.
"A gente vai poder comprar um cahorro..."



De repente, Mônica iluminou-se de uma coragem (ou covardia?) que jamais sentirá de novo, e disse:
"A gente não pode fazer isso, Eduardo".

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

O caminho

No carro dela, o rádio fica desligado e não conversamos, porque é preciso ouvir as buzinadas dos outros motoristas.
Na busca por caminhos alternativos, encontramos aquela rua. Aquela com árvores floridas e casas bonitas, onde velhinhos andam pela calçada de mãos dadas sob o sol. Podia até estar chovendo e ser um desses dias cinzas, mas gosto de imaginar que o sol brilhava. Na verdade, eu já não via o cinza, pois os sorrisos iluminavam a estrada.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Mais um dia por aqui, mais uma noite sem dormir: eu e o trabalho nas sextas

Contrariando todas as expectativas, eu gosto de trabalhar. Ah, ok, eu nem faço muita coisa, mas é legal ter a mente ocupada por umas horas. É CLARO que eu amaria vir quando quisesse e sair algumas noites, mas já me acostumei a chegar lá pelas 3 nos lugares: toda sexta é assim. Narrarei aqui a minha última sexta-feira então. Passei o dia todo correndo e comprando, adorei receber meu primeiro salário (viu como é bom trabalhar?). No fim da tarde, voltei para casa onde tomei um banho rápido e coloquei uma roupa qualquer. Delicadamente, joguei meu vestido magnífico na bolsa, bem como mil maquiagens.
Vou falar a real: não falo com muita gente aqui. Só uns ois e tudo mais, mas tem um cara que todos os dias, sem exceção, vem conversar. Pô, tu é meu colega, não meu amigo! Sim, eu tô legal, tive um bom dia e vou trabalhar até às 3, como sempre. Pra onde eu vou depois e o que vou fazer no fim de semana é problema meu, tô pensando em dizer que vou dar a bunda. Ou que sou lésbica e vou ficar juntinho da minha namorada - sim, eu filmarei a reação do rapaz.
Como não tinha muito o que fazer e ainda era cedo, comecei a ler um livro. Estou eu concentrada, absorta em minha leitura, quando sinto alguém chegando por trás (ui!) de mim., Fechei os olhos, tipo 'isso não está acontecendo'. Mas estava. O maluco chegou a uns 6 centímetros do meu rosto e disse 'teu sapato é maravilhoso!'. Meu sapato era em verniz, vinho, realmente maravilhoso. Mas para sair de noite, não para trabalhar - haha, homem não entende nada! Como não coube na bolsa, tive que vir com ele no pé, rezando pra ninguém ver. Oba, agora a redação toda viu!
Passado o susto, o maluco1 me aluga mais um pouco e eu me desvencilho, indo buscar umas páginas. Chegando ao meu destino, dei oi ao que chamarei de cara-das-páginas. Ele é engraçadinho até, mas nunca falei com ele. Não sei porque, mas ele parece um ursinho carinhoso. Ele murmura algo, não entendi bem na hora. Parecia 'hoje tu tá uma cadela', mas poderia ser 'nota dez' também. Ou poderia ser qualquer outra coisa. Dei um sorrisinho e saí, desesperada. Os ursinhos carinhosos não falam essas coisas! Eles deveriam ser meigos e queridos :~
Fui abordada mais uma vez pelo maluco1, que dessa vez ficou assistindo minhas conversas no msn e meu orkut. Nem minha mãe faz isso mais, porque me deixa furiosa. Dei algumas olhadas 'sai daqui' mas ele deve ter entendido alguma outra coisa - e olha que eu treino olhadas de ódio no espelho, sou realmente especialista nelas. Depois que me livrei, continuei a fazer meu trabalho e falar no msn (já mencionei que amo ser paga pra isso?) e eis que o maníaco do sapato está indo embora. Ele berra o educado 'boa noite' e quando vou responder, segue-se outro berro: 'vou ter que dar um beijo nessa guria!!'. Ai, que legal, agora recebi um beijo na bochecha de um maluco e todo mundo está rindo da Branca de Neve, porque, SIM, é esse o meu apelido.
Esqueci de um detalhe das sextas: o poderoso chefão. Ele está presente e cada vez que o telefone toca me dá medo. O primeiro 'mocinha, vem aqui na minha sala agora' a gente nunca esquece, logo vem a pergunta 'o que eu fiz de errado?'. Geralmente não é nada ou coisas que a culpa não é minha, mas tudo bem, pode me xingar. Nas sextas, o telefone toca umas 6 vezes e eu passo a noite correndo com papéis nas mãos e falando 'já dou um jeito nisso'. Essa sexta, resolvi me maquiar ali pelas 2 e mais, porque não tinha mais nada para fazer. Estou eu no banheiro, um olho já pronto e eu ouço. Não, não era o telefone, era um "DONA ÂNGELAAAAAAAAAAAAAAAAA". Saí correndo com um olho pintado, gatíssima.
E, assim, chego nas festas exausta, isso quando ainda tem festa. Porque, sim, nessa sexta a noite já estava no fim, mas depois de todo meu esforço, me enfio em qualquer bar, tem que valer a pena ué.
Mas nada supera esse domingo. Minha amiga e o namorado estavam dormindo lá em casa.
Eu - Alô, Fabi, tô saindo daqui agora, tá? Acorda pra abrir pra mim, beijo!
Motorista - HMMM, ligando pro amor, é?
Eu - Não, não... é só minha amiga que tá na cidade e teve que dormir lá no apartamento.
Chegando à porta do prédio, quem está esperando lá embaixo? SIM, o namorado, de chinelos e bermuda. Opa, que legal, além de tudo passei por mentirosa, aeeeaeeee!
Ai, eu adoro trabalhar :)

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

msn

angie diz:
não sei se tu sente ou já sentiu
angie diz:
é como se faltasse algo pra que tu te ajuste
angie diz:
e às vezes parece que esse 'algo' tá tão perto!
angie diz:
mas ele nunca chega
angie diz:
e tu não sabe o que é. e fica esperando, esperando, esperando
angie diz:
tenho medo de morrer e ele nunca chegar
angie diz:
daí a gente cansa de esperar e resolve viver. mas é uma vida incompleta, porque tem um buraco ali, uma falta
angie diz:
e tu tem 7 anos e depois 70 e depois 18 de novo

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

ela viu que já não mais sabia se a resposta faz sentido ou não

mas guarda os beijos, abraços, carinhos, olhares e risos na memória.



Em uma semana, abri umas 20 vezes o bloco de notas para escrever algo. Tudo que consigo é rir, rir, rir, rir, rir, rir, rir, rir, rir