quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Eduardo e Mônica, 2005

Ela era de leão e os dois tinham 16. Ele pedia Pepsi, ela, Coca. Ele torcia pra Grêmio, ela, pro Inter. Ele gostava do verão, de praia, de jogar bola no fim da tarde. Ela amava o inverno, o campo, o livro que lia antes de dormir. Ele a fazia rir, ela o fazia chorar. Mesmo assim, todos diziam que eram feitos um para o outro.
Caminhavam pelo parque sem saber o que fazer, observando as famílias que aproveitavam o domingo de sol. Uma menino de cerca de 5 anos olhou para os dois que andavam de mãos dadas, foi conversar. Mônica perguntou o seu nome. Em resposta, a criança deu um chute em Eduardo e saiu correndo - deve ter aprendido a não falar com estranhos. Seguiram seu caminho, naquele silêncio perturbador. Mônica olhou para ele: tinha um nariz lindo. Lembrou que há uns meses sua amiga disse que, se tivessem um filho, ele teria o nariz mais bonitinho de todos. Deu vontade de rir, mas, ao mesmo tempo, falaram: 'que merda'. Dentre todas as coisas que deveriam ser ditas, essa foi uma das únicas pronunciadas.
Sentados na grama, nesse dia não olhavam as nuvens - imaginando formatos engraçados - como sempre faziam. Olhavam para o parque, sem ver graça alguma nas crianças que brincavam e corriam, brigando pelo escorregador. Era apavorante. O silêncio era quase palpável. A menina que andava de balanço caiu no chão, machucando todo o rosto na areia. Entre gritos, lágrimas e sangue - o parquinho parou para dar passagem aos pais que correram socorrê-la. Eduardo e Mônica preferiram não se olhar: estavam pensando a mesma coisa. Além do mais, Mônica estava enjoada.
Não era dia de rir, acredito que nem de chorar. Uma mulher passou com um lindo dálmata, que andava chamando a atenção de todos.
"A gente vai poder comprar um cahorro..."



De repente, Mônica iluminou-se de uma coragem (ou covardia?) que jamais sentirá de novo, e disse:
"A gente não pode fazer isso, Eduardo".

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