quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Família

- Legal essa camisa, combina com o azul dos olhos dele.
- Ah... essa aqui ele não usa mais faz tempo, nem entra mais... Ele agora gosta só dessas com gola assim, olha
- Uhum. São bonitas também.


Sabe, já faz tempo - bastante tempo - que fui embora. Não vi as camisas fugirem do corpo, nem a namorada chegar. Não ouvi a música alta que incomodou os vizinhos e não comi o chocolate que tu diz ser o melhor. Não estive aí pra ver teu salto na piscina, nem pra bater palma quando te entregaram a medalha dourada. Fiquei sabendo que começou a trabalhar, mas não pude te ver chegando em casa cansado do trabalho e mesmo assim indo jogar futebol.

Mas todos esses dias, de todos esses anos, o que mais doeu foi não estar aí pra te dar um beijo. Um beijo todos os dias, de todos esses anos, e dizer o quanto te amo.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Me desculpa por prometer um mundo que não consigo te dar.



você saberia explicar por que ama alguém?

domingo, 4 de outubro de 2009

Agora faz pouco que você foi embora e me deixou aqui sozinho.

Faz pouco, tão pouco, que ainda não consigo imaginar como é - depois de 30 anos - acordar sem ser com seu beijo. Não terei mais arroz e feijão quentes ao meio-dia, então acho que terei que almoçar na empresa, num banco qualquer do refeitório. E quando eu já estiver no chuveiro e ver que esqueci a toalha, não terei a quem chamar, pois você não estará aqui para ralhar 'de novo!' e entrar sorrindo no banho comigo. Não terei companhia para ver TV até tarde e nem quem me acorde quando eu, cansado, dormir no sofá. Honestamente, não imagino como será chegar do trabalho sem te ver de avental na cozinha, terminando o jantar. Não sei como será ir dormir sem te falar do meu dia, contar a piada que ouvi do cara do comercial, planejar o fim de semana. Não sei como é deitar sem ser com você, jantar sem ser com você, sonhar sem ser com você.... eu não sei como é viver sem ser com você (e será que algum dia eu soube?).

Agora faz pouco que você foi embora e me deixou aqui sozinho.
Agora janto um sanduíche e a única voz que ouço é a do moço da TV.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Bom dia

No dia em que eu acordar e não te encontrar ao meu lado, vou girar na cama até o lugar onde tu sempre dormiu, procurar pelo teu cheiro e aí muitas coisas passarão pela minha cabeça. Todos os dias em que fui feliz contigo, e até os que não fui tão feliz assim. Vou pensar em como tu te tornou meu melhor amigo e em como os dias são incompletos se não nos contamos tudo o que fizemos, enquanto cozinhamos a janta. Vou lembrar de como aprendi a cozinhar só pra te ver mais feliz.

No dia em que eu acordar e não te encontrar ao meu lado, vou ficar te procurando entre os lençóis e te chamar. E aí tu lembrará de como eu morro de rir quando me faz cócegas e do meu jeito dengoso de não querer levantar da cama. E eu estarei pensando simplesmente em ti. E nas tuas pantufas espalhadas na sala.

Em meio aos meus pensamentos, tu entrará no quarto sorrindo, recém saído do banho. Me dará um beijo de bom dia e eu lembrarei de todos os beijos de bom dia já dados. E dos muitos que ainda espero.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Os dias serão sempre assim - mas cada dia será melhor

A noite será como todas as outras. Novela e futebol. A pizza ficará pronta no intervalo, a cerveja estará gelada e o jogo acabará 1 x 1. Lerei um capítulo de um livro, mas ficará tarde. Choverá um pouco lá fora, mas depois do calor do dia, já seria esperado. E será tão bom dormir com o barulho das gotas batendo na janela, enrolada nas cobertas macias. Não muitas, uma ou duas, mas a cama estará quente como sempre. Depois, o vento irá parar e surgirá a claridade.

O sol estará levantando, anunciando um novo dia de trabalho.
Eu estarei na cozinha, guardando a louça do jantar enquanto preparo o café quentinho.
Você estará na cama, se enrolando pra levantar, enquanto grita perguntando se a água do chuveiro está do jeito que gosta.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Sabe, eu fico aqui pensando vez que outra enquanto alimento os peixes. O jeito como eles nadam lembra a gente, aliás... tem dias em que tudo lembra a gente. Mas o jeito que eles nadam, meio que se encondendo, sabe? Como se eu não pudesse ver, como se não pudessem nos ver.

...

Já te disse o que eu mais gosto em ti? Não são esses teus olhos brilhantes, nem tua boca vermelha. É o teu cabelo. Teu cabelo que, como o meu, sempre tá diferente, curto, comprido, colorido. Gosto de ver como ele se move quando tu dança, no mesmo ritmo do teu vestido vermelho.

...

Sabe, às vezes eu penso que tudo seria mais fácil se eu me jogasse no lago, mas eu não sei se sou capaz de nadar nessa água tão fria.


(texto escrito há um bom tempo atrás. quando a vida era diferente :D)

terça-feira, 7 de julho de 2009

(perdi a vontade de postar nesse blog e de reclamar de dores que há muito não sinto)




Bonitinho, né? Achei esse site fofo no blog da Carol :)

quinta-feira, 25 de junho de 2009

álbum/coleção/pri

Em toda a minha vida, só consegui completar dois álbuns: o da Barbie e o do Pokémon. Tudo isso já faz um tempo, mas os folheio até hoje, orgulhosa. Há, ainda, um terceiro álbum, que ganhei quando nasci e que desde então - às vezes muitas, às vezes menos - colo figurinhas: é o álbum das frustrações.
Nunca vi sua capa, pois em momento algum eu pude fechá-lo, parece que estou sempre em busca de mais decepções para a coleção. Ao contrário dos outros álbuns, que tenho como um troféu, este eu gostaria de apenas esquecer. Mas como esquecer as figurinhas que tanto marcaram, que tanto sofremos para conseguir, como as insígnias brilhantes do Pokémon ou os sapatos da Barbie?
A gente não esquece. E volta e meia - assim, quando tudo parece tranquilo - o álbum sem capa dança bem na nossa frente, mostrando aquele narizinho gelado e o teu jeito único de correr, só para provocar. Não que precise, pois não passa um dia sem que eu me lembre daquele seisdejunhodedoismilecinco. E de um corpo do chão. E já faz mais de 4 anos...

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Existem dores de todas as formas e intensidades. Existem, ainda, dores que superam as próprias dores. Nelas, não é a maquiagem acumulada de tantas noites que faz o olho doer, não é a bebida de ontem que faz a cabeça explodir, nem o vento que faz com que o corpo trema de frio: damos então boas vindas à dor na alma.
O pior de tudo é quando a dor não grita, é quando ela fica calada, comendo cada pedaço do ser. É quando não se tem forças para agir e ninguém estende a mão. É quando tudo desmorona bem na nossa frente, no copo de martini. É quando se vomita e não se pensa 'nunca mais vou beber', mas 'preciso de mais um drink'. É não saber mais pelo quê se chora.
Dói dos fios do cabelo aos dedos do pé. Dói tudo e dói cada parte do corpo e da mente, é a vida que dói junto. E os melhores amigos passam a ser a caixa de lenços e um tarja preta, porque a gente não quer - a gente não pode mais - ficar sozinho.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Eu escrevo

Por dias estive pensando: por que, afinal, eu escrevo? Não buscava uma resposta bonita para justificar os poemas nos guardanapos de bar, mas algo verdadeiro. E, certa madrugada, ela veio: eu escrevo porque sinto.

Sinto o calor do sol e a dor do corte. Sinto o cheiro das rosas que ele enviou e a saudade de minha casa. E sinto muito por ter errado. Nas vezes em que não consigo falar o que estou sentindo, me consola poder escrever. Então escrevo que a luz do dia me faz feliz e que adoro o jeito que ele me olha. E escrevo cartas de perdão.

Escrevo porque sou feliz e sou triste, porque sinto coisas demais e não sei separar. Porque, no fundo, espero que as palavras me façam compreender o incompreensível. Façam com que a dor cesse e o amor se multiplique. Escrevo porque sinto e sou. Eu dou vida aos meus pensamentos com a ponta de um lápis e é isso que me faz existir. Existir além do senso comum, ser o pai que perde a filha e ser também a princesa apaixonada. Ser a trapezista que sonhei na infância e ser o cachorro que não tenho. Ser a menina que quer mudar o mundo e ser o garoto apaixonado pelo melhor amigo. Ser tudo e todos por algumas linhas, alguns parágrafos. Porque, no fundo, eu não sei quem sou. Porque eu sou o que penso. E cada uma das palavras que escrevo são uma parte de mim.

Escrevo porque sou as personagens que crio e sou as lágrimas que deixo cair sobre o papel.

Eu escrevo para viver.





[Publicado originalmente em: http://clubedaescrita.wordpress.com/2009/04/27/eu-escrevo/]

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Sobre levar as malas pro fusca lá fora

Por mais que o vislumbre de um lugar melhor seja delicioso, não é sem dor que vejo as malas e móveis empilhados no canto da sala.
As paredes não falam, mas eu posso ouvi-las contando histórias de dias que passaram e pessoas que também se foram. As manchas roxas na parede riem lembrando dos fins de semana com os amigos e o vinho; o espelho do banheiro poderia fazer minha maquiagem; e o canto do que era meu quarto é testemunha de noites de lágrimas e - principalmente - risos.
Doi arrumar as malas, mas tirar as fotos das paredes me faz mais feliz. Aqui ou onde quer que eu vá: não as fotos, mas vocês vão junto comigo.

(Siga onde vão meus pés
Porque eu te sigo também)

quarta-feira, 6 de maio de 2009

colapso

minha cabeça cansada já não consegue colocar em palavras o que vê e sente. a pilha de livros ao lado, os cacos de vidro na cozinha, a sensação engraçada no peito. meus pés mais gelados que nunca e a agonia por não conseguir escrever.

mas olho para a frente e - embora seja noite - vejo o sol. penso na voz que me fará dormir e nos pés que aquecerão os meus logo mais: não importa quantos dedos eu tenha colado com superbonder, eu estou feliz.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

mais um bilhete

Sabe, mãe, acho que nunca conversamos sobre algumas coisas. Na verdade, falamos sim, mas sempre rindo e brincando. Mãe, tenho que te confessar que adoro o jeito que ele beija minha mão quando eu menos espero, como ele me ouve contar o dia com toda a paciência e me ajuda com as coisas das aulas. Ele repara nas minhas unhas, mas só quando estão bonitas - e é por isso que faço questão de arrumá-las sempre. Brinca com meu cabelo e bagunça ele todo, eu sempre finjo que fiquei braba, mas na verdade ficaria a vida toda com os fios emaranhados. Mãe, ele vira uma criança junto comigo quando uso meus band-aids de ursinho... e sempre, como tu, fala pra eu não esquecer de levar um casaco ao sair de casa. Não, eu não sinto o coração saltando quando o vejo, nem ouço os sinos tocarem. Eu sinto... paz. Uma paz que eu não sabia que era possível sentir até que eu o conheci, uma paz que faz com que minhas viagens de ônibus tenham o caminho mais bonito e meu sono seja mais calmo. E, sabe mãe, ele me faz sonhar. Não aqueles meus sonhos loucos de antigamente, eu e um cara fugindo juntos de um tiroteio... mas imagino uns domingos por aí, vendo tv ou dormindo um pouco. Por ele eu sei que não vou chorar... pelo menos não a qualquer momento, como sempre aconteceu em minha vida.




Enfim, mãe, escrevo essas linhas para avisar que encontrei a tranquilidade que tu tanto me desejou nesse último Natal... E para te garantir que estou feliz como há muito tempo eu esperava...

terça-feira, 21 de abril de 2009

Espero que você nunca sinta isso

isso, minha filha, que me faz perder a fome e a dignidade.
Nunca sinta essa dor insana a cada mesa de bar que dividir, cada gole da cerveja que tomar - a dor que crava facas pelo corpo, mantém as memórias vivas e aquele sentimento morto. Que as lágrimas brotem de teus olhos, filha, por motivos maiores que este, por momentos melhores que noites assim. Noites em que nem shows, nem álcool, nem cigarros têm importância. Porque a razão de tudo que se faz e pensa está ali na mesa ao lado, rindo com outras mulheres.
Espero também que nunca sinta, filha, todo esse amor. Amor que aperta o peito e deixa sem fala, sem saber o que fazer ao ouvir o 'oi' sem graça e sem cor. Espero que não sinta essa coisa doentia, quase que obsessiva, que faz com que músicas tenham outro significado e beijos sejam como explosões. Espero que você ame muito, mas que também seja amada. Que tenha explosões de felicidade, não de paixão e ódio.
Espero, minha filha, que você nunca sinta coisas tão doentias e intensas como eu. E que por isso não escreva em guardanapos de boteco como sua mãe faz agora, com uma cerveja já quente como companhia.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

obrigada por mais um dia

Hoje andava pela casa sem saber muito o que fazer ou pensar. Dentro do armário, vi aquela velha caixinha, que acho que levarei comigo onde eu for.

Abri e fui tomada por um sentimento estranho ao olhar o papel do bombom, o elástico e a palheta. Peguei cada um deles com carinho, como se mexe em algo muito importante... preciosidades, raridades talvez (seriam o meu tesouro?). Não pude conter uma lágrima quando encontrei o guardanapo no fundo da caixa, nem precisaria ler, porque aquelas frases nunca saíram da minha cabeça...
Recomposta, guardei tudo delicadamente... pois, agora, tudo iria para o seu lugar: os velhos sentimentos devem ser descartados.

Com a caixinha roxa nas mão, caminhei em direção ao lixo. Em sua frente, mudei de ideia. Coloquei a caixinha de lado, arranquei meu coração e o lancei no cesto imundo. Parabéns para mim!

quarta-feira, 25 de março de 2009

Comprei felicidade a prazo e não tive forças para pagar

Estava com sede. Andava por aquele deserto sufocante fazia dias e há horas e horas não tomava um copo de água. Começava a rastejar: doía me manter em pé. Eu precisava continuar me movendo, afinal, sair daquele inferno só dependia de mim.. E, para chegar a algum lugar, se faz necessário seguir o caminho.
Avistei uma construção no horizonte. Ao me aproximar, a placa neon revelou uma grande lanchonete. 'Água', pensei. Naquele momento, não me importava que eu estivesse sem emprego, que precisasse de remédios para minha mãe doente, que pilhas de contas me esperassem na porta do que um dia foi minha casa. Não me importava nem mesmo com as impiedosas chibatadas que levaria como castigo por contrair tantas dívidas.
Sem medo ou vergonha, entrei na lanchonete. Pedi uma água gelada e esperei por ela sentada em um sofá macio, sentindo o ar frio em meu rosto. Nada era relevante para mim, além do líquido que invadia meu corpo, que fazia cada uma de minhas células pulsarem de felicidade. Paguei com o cartão de crédito e continuei minha caminhada, sonhando com a próxima vez que teria água só para mim. E fingindo não saber o horror que me esperava na próxima semana, quando pagaria por cada um de meus erros.
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(toda a alegria que me invade ao te ver (ter?) não vale a dor infinita que sinto quando tu parte)

sexta-feira, 20 de março de 2009

O sol que voltou a brilhar - e espero que nunca pare

Eu estava comendo cachorro quente com meu irmão. Cheio de batata palha, que ia despencando a cada mordida. Estávamos sentados na calçada, conversando: será que vão nos escontrar aqui? será que deveríamos ter avisado que viemos comer?
Foi enquanto procurava pelo carro do meu pai que eu te vi passar do outro lado da rua, correndo. Não entendi o porquê da pressa. Foi meu irmão quem disse 'deve estar com medo da chuva'. É verdade, o céu estava preto, as nuvens iam formando um teto apavorante para as pessoas que aproveitavam aquela tarde de sábado. Mesmo assim, sem me importar com os raios que logo viriam, resolvi gritar teu nome. Ouviu, parou, virou: me viu. E continuou correndo, correndo, correndo... fugindo?
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Acordei nervosa. Atordoada, girei na cama e te vi, dormindo de um jeito lindo. Lá fora, nem sinal das nuvens escuras que até pouco me apavoravam - o sol entrava pela janela iluminando teu rosto. Te dei um beijo e voltei a dormir.
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A realidade pode, sim, ser melhor que um sonho.



:)

terça-feira, 17 de março de 2009

as luzes da cidade

Marina ia à chacara de seus avós todo fim de semana. Gostava de lá, de tudo que podia fazer e de quanto brincava. Corria com os cachorros, seguia as borboletas e sempre queria andar no cavalo - mas tinha medo! Marina era acostumada com seu apartamento pequeno no oitavo andar, de onde podia ver as luzes da cidade todas as noites. Por isso foi estranho quando, aos seis anos, viu pela primeira vez um vagalume na chácara. Aquela luzinha voava tão bonito, era impossível não se encantar. Seus olhos brilharam como nunca e coreu pra casa contar pra sua mãe. A avó que ouvia a conversa riu, disse que eles sempre apareciam atrás da casa. A partir disso, todas as noites Marina sentava quietinha em um degrau da escada dos fundos, esperando o vagalume aparecer. Não queria ele só para ela, contentava-se em contemplar toda aquela beleza, com um sorriso no rosto.

Quinze anos depois, Marina vive tudo isso de novo. No meio de tantas luzes descaradas - comuns na sua vida - encontrou um vagalume. Tão bonito, tão diferente de tudo, de todos. De sua cadeira nos fundos da sala, Marina se sente como no degrau de tanto tempo atrás. Só observa. E sorri.

(o brilho nos olhos é o mesmo)

domingo, 1 de março de 2009

escolhas

Desde pequena, Gabriela sempre ouviu a avó dizer que nossas decisões revelam quem somos realmente. Não entendia muito bem o que a frase queria dizer em sua plenitude, mas gostava de pensar sobre isso. O tempo passou - recheado de escolhas - e Gabriela não tem mais oito anos. Mas continua a pensar nas palavras da senhora que a pegava no colo e cantava com uma voz suave.
Hoje, Gabriela levantou os braços aos céus - mesmo estando no interior de um apartamento escuro - e decidiu não servir o jantar. Decidiu, também, impedir que os fantasmas do passado e presente a impeçam de dormir. Decidiu tudo isso abandonando o ferro com que passava a roupas dele, tirando cuidadosamente o aparelho da tomada.
Abriu a porta e foi embora.

a parede branca nunca pareceu tão suja

Doía vê-lo assim, tão lindo, escorado naquela parede.
Difícil admitir, mas foi o inferno que havia nele que a atraíra. As roupas rasgadas, o cigarro no canto da boca e o olhar meio de canto, desafiador. Ela sempre gostou de desafios: ele vai ser meu, pensou logo que o conheceu. E agora, após tantos anos, depois de sentir na pele a dor que o inferno causava, ela voltava a vê-lo.
Sentir na pele não foi o pior daquele relacionamento conturbado, o que doeu mesmo foi sentir na alma. O estômago ainda se contraía ao lembrar dos tapas e chutes que as palavras e atos dele tinham o poder de fazâ-la sentir. Era raiva, sim, mas - acima de tudo - era amor. Um amor doentio, digno de estudo. Um sentimento que só fazia mal, não é fácil reconhecer.
Mas ela teve certeza de que ele reconheceu os restos da paixão tão bem escondida quando olhou em seus olhos ao acender seu cigarro. O olhar deixou de ser de canto, penentrou na sua alma e esculhambou tudo o que estava nas prateleiras do seu coração, tão bem organizado. Tantos anos dedicados a essa arrumação!
Doía vê-lo assim, tão lindo, escorado naquela parede.
Uma mistura de nojo e paixão, foi o que ela sentiu. Ódio de si mesma, foi o que me pareceu - vendo a cena de longe.
Doía vê-lo assim, tão lindo, escorado naquela parede.
Tão lindo, tão errado, tão seu que um dia foi.
E nunca mais será.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

essa é a luz que eu preciso...

Chove muito. Por toda a cidade, as famílias jogam cartas, assitem a filmes, dormem. Uma das casas está vazia, fechada. A rede está ali fora, sendo quase levada pelo vento e o shortinho branco recém lavado foi arrancado do varal. Que pena, já estava seco. Por dentro, há água pelo chão: quem disse que os vidros haviam sido fechados? O chão não está muito limpo e as camas não são arrumadas faz uns dias.
Não muito longe dali, na beira da praia, as moradoras correm, gritam, riem.
Longe de tudo e de todos, as 4 vivem.

Por que não pode ser assim para sempre?

sábado, 21 de fevereiro de 2009

uma menina saudável

Algumas pesoas não comem carne, outras não gostam de salada, e há até mesmo quem se alimente só de luz. Essa menina era diferente: ela vivia apenas do amor. Não um amor qualquer, mas o amor não correspondido. É por isso que ela anda tão gorda.
Seus cabelos são vermelhos, assim como as flores que nunca recebe (e continua esperando). Faz falta a ela o calor, o fogo, o arrepio que provoca um carinho, sabe?, a sobremesa. Mas ninguém precisa de sobremesa para sobreviver, embora seja muito difícil resistir sem o almoço... E é como se servissem seu prato repetidas vezes nas refeições. 'Não, obrigada, não quero mais, não AGUENTO mais'. Mas o amor não correspondido ignora e continua a crescer na panela.
E ela não consegue dizer não, não resiste a um pouco de insistência... 'toma vai, toma mais um pouco'.

Toma no cu, isso sim.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

sei que me viu passar

Eu sei que me viu passar essa semana, quando eu andava com pressa - o mercado sempre fica cheio naquele horário. Ao te ver de relance, quis fugir: o meu chinelo de dedos velho e cabelos presos em um coque mal feito não me pareceram suficientes para o momento. Eu queria a magia . E, definitivamente, minha camiseta larga não faria os sinos tocarem quando nossos olhares se cruzassem.
Dei mais alguns passos e pensei que talvez não fosse tão ruim assim. Um encontro casual. No fundo, sabia que tinha me visto. Pior: sabia que tinha visto que eu queria que não visse. Complexo, não? Acho que eu esperava que puxasse meu braço e bradasse um 'escuta aqui, tu não pode fugir pra sempre!'. Ou que chamasse por meu nome, fizesse alguma piada sobre as roupas, não sei.
É claro que não acreditava realmente que fizesse isso. Pois, de ti, só aguardo a voz doce e as palavras certas.
Entrei no mercado correndo, ainda pensando no quase-encontro. Tu - que começavas a sentir o frio do fim de tarde - pensavas nas minhas fugas, me dando todo o tempo do mundo. Eu, passando pelo corredor das verduras, te admirava ainda mais.
Ambas suspiramos.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

esperança


espero pelo fim do expediente, resultado do exame, alívio pra dor, cessar da chuva, começo do filme, cair da lágrima, nascimento do filho, retorno dos pais, início das aulas, festa da noite, final do livro.

mas tudo que eu queria mesmo é um telefonema.

que não vem.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Sobre o fim do amor - um rascunho

Sempre me pergunto como acontece, mas nunca encontrei uma boa resposta. O fato é que, para a maioria das pessoas, o amor acaba. Não me refiro àqueles casos em que pensamos, avaliamos e - por vontade própria - aniquilamos nosso sentimento. Falo sobre aquele dia, esperando o semáforo abrir, passando um batom, em que o espelho reflete nossos olhos e tudo fica claro: nós não amamos mais.
E então aquela pessoa outrora tão bonita e perfumada - o homem da nossa vida? - passa a ser um mal vestido, um chato. 'Por quê?', é o que perguntam quando se dão conta do acontecido. É essa mesma questão que me persegue, me tira o sono. E surge, ainda, outra dúvida: desde quando?
E esse é o ponto central. Quando foi que deixamos de sentir as borboletas ao vê-lo, os olhos brilhando depois de cada beijo apaixonado? E por que não nos demos conta? Tudo acontece tão camuflado em meio aos problemas e correrias do cotidiano, o ônibus que pegamos para trabalhar, a janta que fazemos apressados. Como se dá essa tranformação? Nosso amor antes tão certo vira um 'bom dia' ao acordarmos, isso senão repulsa quando conversamos.
Será que em algum - ou alguns - momentos de nossa história fizemos algo de errado, de grave a ponto de destruir silenciosamente o sentimento? Eu não sei. E é por isso que essas palavras são rascunho, porque não tenho certeza de nada, na verdade, não sei de mais nada. E já nem sei se sei amar.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Cicatriz

Entendo bastante de cicatrizes.
Semanas antes de completar um ano de idade, eu caí no chão. Claro que não lembro, mas a marquinha branca até hoje figura em meu queixo.
Aos seis anos, um balanço em movimento com uma menina me atingiu. Minha bochecha tem até hoje um sinal.
Essa semana tirei um dente, o corte ainda está um tanto aberto.
A questão é que sempre dói. É uma dor que nos impede de sequer pensar em outra coisa.
....
Há alguns anos, bom, é difícil dizer. Não fiz uma tatuagem, mas algo que em minha cabeça soaria mais poético. Escrevi teu nome em minha pele com a ponta de meu brinco. A cada corte eu sentia a dor, mas eu estava adorando senti-la. Talvez tu ainda lembres do sangue que escorria, da cicatriz que carreguei orgulhosa. Desde então, parece-me que tomaste afeto pela brincadeira: será que cada vez que nos vermos me deixará alguma marca?
As letras outrora tão brilhantes em minha perna já não podem ser lidas, até porque o sentimento está longe de ser o mesmo. Mas me restam algumas marcas roxas e um pequeno corte no braço. Isso tudo já nem me importa, sairá com o tempo, bem como o teu nome.
Mas as cicatrizes que insistes em deixar em minha alma? Dessas sim, eu nunca estarei livre.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Verde e roxo

Não é dor, tampouco saudade. É uma sensação estranha, indecifrável, que me invade sempre que abro o armário do banheiro. Acho que no fundo eu espero que no dia seguinte, quando acordar, ela não esteja mais ali. Ou que não esteja sozinha, não sei.
Ver a escova de dente verde, ao lado da minha roxa, é estranho. Desde o primeiro dia eu sabia que era errado, que ela nem deveria estar ali. E eu sempre imaginava quantas noites mais ela suportaria, quantas nós suportaríamos. Era tudo sujo, imoral: mas as escovas de dente estavam lá para deixar uma sensação de limpeza, mascarando a imundície das consciências.
Quando começou e quando acabou, já nem sei... acho que nunca falamos disso nas noites escuras, que escondiam tantos segredos. Sempre me pergunto: por quê? Nunca encontro uma resposta. Verde e roxo não combinam, mas ficam tão bem juntos, ocultos pelo armário.
Todos os dias ao ver as escovas, sinto essa coisa estranha, essa cócega na barriga. Hoje não foi diferente, peguei a roxa e escovei meus dentes. Com um sorriso, coloquei a verde no lixo. Não como quem se livra da sujeira e das coisas antigas, como um sapato velho. Mas como uma criança que coloca fora o papel do docinho que comeu antes do almoço, sem que ninguém soubesse. Sorri novamente.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Post nostálgico e emo sobre uma das melhores pessoas que conheci



A foto é velha (2006?), os sentimentos que a acompanham são antigos também. Cara, encontrei o fotolog dela - abandonado - e agradeci à tecnologia! Obrigada internet, que vai registrar pra sempre (?) momentos assim. Não que eu não vá lembrar, mas aprendi a não confiar muito na minha memória.

Ainda hoje lembro do frio, das bolas de neve e do abraço. Da Fer tirando a foto e a gente ali! Acho que nem se a internet for infinita caberiam todas nossas histórias. Ou todo meu sentimento.

É uma amizade que não acaba nunca e aumenta a cada dia! E é também um orgulho, um respeito, uma admiração eterna!

Vendo as fotos tão velhas no flog, senti um aperto no peito, uma saudade tão grande! Lembro do medo que tinha ao começar a virar 'gente grande', não queria perder minhas amigas! E tu, Fabi, é o maior exemplo de que isso não acontece, quando a amizade é verdadeira. E esses km que nos separam, nos tornaram ainda mais unidas, mesmo que a gente não possa mais dar todo dia esse abraço apertado!

De qualquer forma, por todos esses anos, já tentei diversar vezes expressar em palavras o que eu sinto e penso. Eu sempre falho miseravelmente.

Finalizando: a foto? A gente como tem que ser: juntas. Juntas no bar, na praia, na chuva, na calçada, no posto, na náááiti, na neve e certamente no fogo do inferno. (haha)

Te amo, melhor amiga!

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

E a Carol?

Ela era minha melhor amiga. Lá pela sexta série, íamos juntas pras festinhas que duravam até a meia noite. Sempre fomos muito diferentes: ela me complementava. Era meu porto seguro, minha confidente. O tempo passa, a distância aumenta, as diferenças que antes desconsiderávamos passam a incomodar. O contato é perdido, a importância não. Encontrei-a no fim de ano, nas primeiras horas de 2009. Vi ela assim, meio de longe, mas o suficiente para reconhecer: corri, abracei, chorei. "Tu jura que vem me visitar?" - ela perguntou, "Sim, vou mesmo". E eu fui esse fim de semana.
É estranho ver como a 'tia' mudou, como o irmãozinho que antes me jogava bichinhos de pelúcia está maior que eu. Saímos para um sorvete na chuvosa tarde da praia - nós tomamos rumos tão diferentes. Cidades distantes, cursos opostos, ideais distintos. Falamos sobre a vida, o que fazemos e quem somos hoje. Mas jamais nos esqueceremos do porquê o somos. Daqueles anos tão doces, segredos tão bem guardados e problemas que pareciam tão sérios.
Foi necessário pouco para que caíssemos no silêncio. "E a Carol?". "Qual Carol?". "A que sentava na frente do quadro...". "Sei, sei.. o que tem a Carol?". "Vi ela esses dias... tá fazendo Medicina.". "Hm, Medicina". "Que legal... legal pra Carol."
Mas não quero acreditar que o que nos une é a Carol, da Medicina. São muitos anos de cumplicidade pra resgatar em um sorvete, acho que foi melhor ficar em silêncio. Um silêncio que gritava todo o meu sentimento, revelado no "a gente se vê".
Porque a gente sempre se vê.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

O fundo do poço tem trilha sonora

"Eu sei que vou te amar, por toda minha viiiiida vou te amaaaaaar". Essa música está me perseguindo, sério. É a Maysa, o rádio, o cara do andar de baixo... Me peguei no ônibus cantarolando "deseperadamente eu vou te amaar" e as lágrimas entupiram meus olhos. Pra chorar ouvindo isso, só no mesmo momento em que eu choro vendo Luciano Hulk. Pois é, minha gente, esses momentos existem. Mas, poxa, a mulher tinha 47 filhos, era lindo. :~
Outra que eu não aguento mais ouvir - morra, novela: "que beijinho doce que ele teeeem!". Ai, é tão bonitinha. Sim, dei um mergulho na infelicidade e estou bem assim! Menos quando todos meus colegas de trabalho me viram chorar e ir pro banheiro na altura do "nunca maaaais amei ninguém". Enfim, era um cisco no olho, juro!
Despeço-me agora. E só volto a postar aqui quando músicas infernais sairem do meu cérebro.

...perguntaram pra mim... se ainda gosto delaaaaaaa.....

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Crianças - esses seres adoráveis

Não sei como dizer isso educadamente: eu não gosto de crianças. Ok, tem umas legais, divertidas e tudo mais, acho até que todas devem saber ser assim. Mas me refiro àquelas que fazem questão de NÃO ser. Aquelas que choram por qualquer besteira, correm nas lojas, fazem escândalo e xingam todo mundo. Tipo: mal-educadas pra caralho. Crianças vivem me acordando com seus berros em ônibus, isso me deixa furiosa. Mais furiosa ainda eu fico com pais que nem se importam - isso aí, incentivem o mau comportamento.
Tive minha carteira roubada, junto perdi todos meus documentos. Ok, que lixo. Segunda-feira acordei cedo (pros meus horários) e lá fui eu, sem nem almoçar, pro Instituto Geral de Perícias. Cheguei lá às 12:45, peguei a senha 253 pra fazer a segunda via da Carteira de Indentidade. Estava ainda na 214, logo, demoraria uma eternidade pra eu ser atendida. E eu lá, com fome, CALOR e raiva. Pelo menos tinha um livro na bolsa, como sempre, fiquei lendo. Gente que não acabava mais, eu repassando mentalmente as mil coisas que tinha que fazer. Lá pelas 14:00, um senhor que atendia chamou a atenção de todo o povo que esperava "O sistema tá fora do ar, sem previsão de volta". Tipo: "morra, sistema". Indignada, fui embora.
Descobri que tinha como agendar pela internet, foi o que fiz: hoje, às 12:20. Cheguei lá pontualmente, olhei pra multidão que esperava (como eu segunda!) e passei adiante. Na mesa ao lado da minha, uma criança fazia a primeira via da identidade, junto da mãe. Até aí, tudo certo. Quando chegou a hora da foto, a criatura resolveu que não ia tirar! E ficava lá, fazendo uns vida loca com as mãos, abrindo sorrisões e balançando o rosto. E a mãe: "Bruno, por favor!". O atendente: "outra...". Sem mentira, o bocó precisou de umas 7 fotos até conseguir uma razoável. Eu queria espancar ele, tipo, isso aqui não é fotinho de colégio que todos tem o maior tempo do mundo! E ele não tinha 3, 4 anos que não entendia... tinha quase uns 10! Bah, isso pra mim é gente sem limite, é como os colegas retardados que eu tive que no terceiro ano que se jogavam bolinhas de papel. Gente que não cresce. E eu só pensando nas pessoas lá fora.... Ah, é por isso que na segunda fiquei horas sentada e a fila não fluia. Idiota.
E eu nem sou tão mal humorada. Mas até hoje só tive experiência ridícula com crianças, daí generalizo: tenho raiva de todas.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Para não fugir do óbvio: a viagem - parte 1

Tantas, tantas, taaaantas coisas nos últimos dias. Meu bloquinho inseparável voltou cheio de idéias.
Acabo de chegar na cidade vazia e vim direto pro trabalho, que raiva. Lembrei do tempo que passava o verão todinho na praia - e reclamava. Eu não gosto de calor, nem de praia. Mas dos males o menor: antes verão+praia do que verão+trabalho. Como eu 'não posso' escolher, eis me aqui.
Todos os anos da minha vida, ficava indignada com o bando de gente que invade as praias na semana do Natal ao Ano Novo - aff, gente pobre! Que máximo, agora sou um deles! E já que pertenço ao clube, executei minhas tarefas direitinho, como (não tão) rapidamente tentarei descrever.
Passagem comprada pra sábado, 17:30. O trabalho no sétimo dia vai geralmente até 14:30, uma maravilha! Trouxe a mala e deixei com o - querido! - porteiro, assim quando eu saísse nem tinha que passar em casa, ia direto num churrasco de um amigo e depois pra rodoviária, teria tempo suficiente. OBA: Israel atacou a galera e quem se fodeu fui eu junto! Mas que legal é ficar vegetando no jornal no único dia que eu tinha pressa, valeu aí Gaza! 15:15 fui pro aniversário, é uma maravilha não comer carne num churrasco. Não que eu tivesse fome, mas 'hoje tu vai comeeer' e 'só um salsichão' são frases chatas e nada engraçadas, anotem! O que resta é beber e rir, sem perder a hora. Quem disse que o táxi chega? 17:17: 'vai voando, moço!'. Não era pra ele levar a sério, acho. Fui com o coração na mão, enquanto ele ultrapassava os sinais vermelhos. Chegando na rodoviária, eeeta tranqueira! Que legal que toodo mundo viaja de ônibus, saí correndo com uma mala gigante em busca da tal plataforma sei-lá-que-número. Consegui!
E o ônibus? Adóóóóóóóro pinga-pinga! Detalhe: eu sempre durmo em viagens. Estava sonhando antes do ônibus arrancar, com um simpático velhinho no banco do lado, mas não sem antes implorar 'por favor, me liguem daqui 3 horas, senão vou perder a parada'. No maior sono e alegria do mundo, a viagem seguiu. Eu estou numa nuvem fofinha, vou voando... tudo tão calmo... de repente as nuvens me dão choques no cotovelo! Choques intermináveis! Acordo desesperada: um senhor CUTUCA meu cotovelo insitentemente - 'sua passagem, senhorita'. Caralho, já não dei a passagem lá na frente? Raiva, raiva, raiva!
Já acordada, resolvo ir ao banheiro, a cerveja toda pedia pra sair. Que coisa péssima é banheiro de ônibus! O drama começa em chegar lá no fundo, com o transporte pulando de tanta buraqueira - maravilha de estrada desse Brasil! Tudo certo, volto e cochilo mais um pouco. 'AAAAAAAAH! AAAAAAAAAH!'. Não, Israel não atacou o ônibus também, é só uma criança no banco do lado berrando. O que os pais fazem?
a) 'Fica quietinha, filha'
b) 'Para, filha!!! Tá acordando as pessoas'
c) dão um safanão
Resposta: nenhuma das alternativas. Os infelizes APLAUDEM a criatura que me acordou, mesmo diante do meu olhar de ódio. Resultado: resto da viagem aos berros! Elaiá, que beleza! A propósito: o homem do meu lado sumiu, agora o banco é ocupado por uma moça loira. Por que eu não vi isso? Será que o velhinho foi só uma ilusão?
De qualquer forma, horas depois eu cheguei num lugar nunca visto. 'Rodoviária de X', berrou o elemento que antes me acordou. Peraí. Eu veraneio em X há anos, a rodoviária não é aqui. 'É aqui sim, blablabla'. Enfim: saí do ônibus, né, mesmo sem ter a menor idéia de onde eu estivesse.
Adoro essa vida popular!
Sobre as noites e outros fatos, esvrevo em outros posts.
Em tempo: a rodoviária mudou e, aparentemente, só eu não sabia.