sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Quando se ouve música

Não esperava muita coisa daquela tarde cinza, naquele domingo de inverno. Vestia um casaco vermelho por cima do pijama grosso e ia me arrastando pela casa com as pantufas de minha mãe. Quando a campainha tocou, eu já sabia quem era e corri para abrir a porta. Dei um beijo morno em sua boca, com gosto de café, e perguntei que filmes ele havia trazido. Antes que me deixasse ver os DVDs da sacola, tirou um embrulho roxo e me deu. Desfiz o pacote com cuidado, não queria rasgar o papel, afinal eu colecionava tudo o que ele me dava.
Uma pequena caixinha em minha mão, da mesma cor do pacote. Abri. A luz iluminou a sala, ouvi uma melodia suave. Dentro da caixinha, uma bailarina rodopiava no mesmo tom, como se nada mais importasse. Sem que a música parasse, eu ainda estava encantava quando ele me disse: ‘nós vamos nos casar’. Soou assim, como uma ordem, e a tarde adquiriu uma luz que antes não existia.
O mundo ainda poderia ser feliz e brilhante... mas então veio a noite, a sombra, o frio e a solidão.
Hoje, eu continuo andando de pijama grosso, casaco vermelho e pantufas de minha mãe. Mas em todas as tardes cinza de minha vida, nos domingos do inverno, a luz ilumina a sala, ouço a melodia suave e, junto com a bailarina, rodopio no mesmo tom. Sem que a música pare e como se não nada mais importasse.

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