domingo, 17 de agosto de 2008

O tempo passa, passa a me fazer bem o tempo.

Hoje eu fui a uma festa. Uma dessas festas que a gente não espera muito: com nossos pais, com gente desconhecida, fazer aquele social insuportável - que não combina nada comigo - sorrir para responder ao "como tu cresceu!", sentar de um jeito bonito e cumprimentar todo mundo. Enfim, após o ritual "parabéns pela festa, está linda!", beijinhos, beijinhos, beijinhos (são dois ou três afinal?), sorrir, sorrir, agradecer, "quanto tempo!", eu finalmente sentei. Procurava um local estratégico, onde ninguém ficasse me assistindo durante o jantar e etc. As mesas eram para mais pessoas e - que alegria! - caí justamente na mesa dos padrinhos da aniversariante, mas que beleza, agora sim vou passar a noite toda atordoada com flashes esporádicos.
E toda aquela gente bonita, bem vestida (ou nem tanto), e eu lá, me sentindo um et, como sempre. Porque uma roupa maravilhosa e uma maquiagem impecável podem fazer com que eu me junte à massa idêntica, mas eu sempre sei que é diferente. Eu sei da dor, e que dor que eu sentia. Embora eu me despedace, o sorriso continua no lugar, intacto.
Começo a conversar com minha mãe: as luzes, a decoração, as pessoas. E, então, eu vi. Aliás, ela me mostrou: "olha ele, Ângela, tu te lembra?". Ah, eu me lembro sim. Lembro de tantos anos atrás, quando uma criança deitava e o via nos sonhos, sonhava que ele pegasse a sua mão e - quem sabe um dia - ligasse pra sua casa, porque ela achava que ele era exatamente o que precisava, além de algumas bonecas e o primeiro sutiã, que ela tinha ganhado uns dias atrás.
Ele não reconhece, eu também não teria se não fosse minha mãe. O tempo passou, mudou tudo que sequer existiu. A namorada dele é bonita, mas vou querer lembrar de como era anos atrás: o uniforme do colégio, a correria - não esse rapaz de terno da mesa aqui perto, um entre tantos outros.
Não quero dar oi, não quero que ele me veja. Eu volto a sorrir, só que agora é sincero, é de verdade. Obrigada, bela noite, alguns pedaços de mim voltaram. Lembrei que eu sei sonhar, sei sentir... e talvez algum dia eu saiba amar.
O garçom passa, peço um drink. Já não me importa mais a câmera, as pessoas, os padrinhos. Eu me sinto feliz, simplesmente respondo: "lembro sim, mãe. Como ele cresceu."

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